Câmara Inversa

sexta-feira, agosto 11, 2006

Arte e etc

"Adaptações, coincidências e apropriações" - por Daniel Lopez




“Composição”, 1921 - László Moholy-Nagy

Em todos os ramos da atividade humana, encontramos semelhanças entre projetos distintos, que ocorrem por adaptação, por coincidência ou por apropriação. O grande escritor russo Dostoieviski, por exemplo, em "Os Irmãos Karamazov" enfoca a luta por herança de uma maneira muito parecida ao que Shakespeare narra em "O Rei Lear" (durante prisão na Sibéria, por conspiração contra o Czar Nicolau I, ele leu a obra completa Shakespeare). Akira Kurosawa faz a ponte entre esses grandes homens ao adaptar a obra "Macbeth" (em "Trono Manchado de Sangue") e "O Rei Lear" (em "Ran"), ao mesmo tempo que filmou "O Idiota" de Dostoievski.

Volto-me, porém, para adaptações (ou apropriações) não tão explícitas ou reconhecidas pelos autores. Um bom exemplo é o livro "Vento Sudoeste", de Luiz Alfredo Garcia-Roza, muito semelhante à história narrada por Oscar Wilde em "O Crime de Lord Arthur Saville", que narra o desespero de um homem após um vidente avisá-lo de que matará uma pessoa (reverberações de o "Édipo Rei", de Sófocles).



Congresso Nacional - Oscar Niemeyer

Embora clara, outra coincidência ocorre com o projeto de Oscar Niemeyer do Congresso Nacional e o quadro "Composição 4" do artista húngaro László Moholy-Nagy. Levando-se em consideração que a obra de Nagy data de 1922, enquanto o Congresso Nacional só seria inaugurado em 1960 (14 anos após a morte de Moholy-Nagy), somos levados a pensar que Niemeyer bebeu nas fontes da Bauhaus (escola de design, artes plásticas e arquitetura de vanguarda que funcionou entre 1919 e 1933 na Alemanha, da qual Nagy era membro).



"Composição 4", 1922 - László Moholy-Nagy

Niemeyer nega a inspiração, já que repudia, inclusive, a funcionalidade dos projetos arquitetônicos da Bauhaus, preferindo a ousadia formal à praticidade do uso.

Bem, cabe a cada um observar as semelhanças e tirar suas conclusões.

3 Comments:

  • Os artistas têm características próprias, mas sempre tem um mestre acima. As influências existem e as boas idéias também. Creio que determinadas obras em Brasília foram aproveitadas de tempos remotos, embora sempre se diga que o autor é recente...

    By Anonymous Anônimo, at agosto 12, 2006 11:54 AM  

  • Caro Daniel,
    Hipotese eh uma coisa que nao eh, mas a gente faz de conta que eh, pra ver como seria se ela fosse.
    Sinto que mais uma vez voce viu alem dos demais jovens do seu tempo.Lamentavel tal foi a falta de criatividade, embora o resultado tenha sido fantastico, mas... #Nunca devemosesquecer que a ARTE nao eh uma forma de propaganda, eh uma forma de verdade.#
    Se ele nega, ele mente!

    By Anonymous Anônimo, at agosto 13, 2006 1:07 AM  

  • Conheço um pessoal da Bauhaus e eles são realmente totalmente voltados à funcionalidade das construções e objetos. Zero de estética...

    Agora, não posso deixar de falar, curiosamente as melhores transposições das peças de Shakespeare que você citou ao cinema certamente são as do mestre Kurosawa.

    By Blogger Fábio Silveira, at agosto 15, 2006 9:55 PM  

Postar um comentário

<< Home