Câmara Inversa

sábado, março 11, 2006

A TV Paga Contra-Ataca


Naquele país ali do norte, a década de 90 consolidou de vez o que as décadas de 70 e 80 já construíam. Através de sucessos como "Dallas", "Arquivo X", "E.R.", "Friends", "Married with Children" e até mesmo de séries de animação como "Os Simpsons", séries de TV consolidaram de vez (se é que ainda precisavam disso) o status de coração e alma da televisão americana, um processo que começara, com grande força, lá atrás, com as divertidas "Perdidos no Espaço", "I Love Lucy", dentre outras.

Recentemente, contudo, as séries de tv aberta (leia-se canais como ABC, NBC etc) começaram a demonstrar suas limitações, acentuando certas características, com freqüência negativas, principalmente de ordem conservadora, porém vestidas com uma roupagem "veja como somos moderninhos". Exemplos desse time? Fácil: "Gilmore Girls", "Everwood", "The O.C."... Os problemas, nesses casos, vão além do mero clichê (dentre eles, como na série sobre os "adolescentes" ricos, caras e mulheres de quase trinta anos interpretando garotos e garotas novos); eles estão na forma como tratam alguns dos grandes tabus da sociedade americana: sexo (agora, parecem liberais, mas o bom e velho conservadorismo retorna sob a forma de lições mascaradas que os personagens aprendem) e violência (banalizada e liberada; qual capítulo de O.C. não tem uma briga mesmo?).


Se essa renovação (não esqueçamos da volta do velho "Whodunnit?", que Hitchcock abominava, em séries como "CSI" e "Without a Trace") trouxe uma bela virada às séries, que, com o surgimento dos reality shows, foram marcadas de morte pelos apocalípticos de plantão. Esse processo, contudo, teve um (ótimo) efeito colateral: a abertura de espaço para os canais a cabo, que começaram a produzir séries também. Mas não eram séries comuns. A profundidade com que tratavam alguns assuntos as colocam facilmente dentre o que de melhor o cinema americano produz hoje.


O primeiro exemplar desse grupo, encabeçado pela HBO, foi a excelente "Os Sopranos", produzida ainda hoje, depois de inúmeras temporadas. O sucesso dela abriu espaço para outras, notadamente "Six Feet Under". Produzida por Sam Mendes (alguns episódios são dirigidos pela atriz Kathy Bates), a série acompanha uma família que é obrigada a assumir os rumos de uma funerária quando o patriarca morre. A esposa tenta se achar, inclusive com outros homens, o filho mais velho se vê diante de novos desafios à frente de uma funerária, junto com o irmão do meio, que é gay e tem dificuldades em estabelecer relacionamentos, assim como a irmã mais nova. Extremamente original, no aprofundamento psicológico dos personagens e nas por vezes hilariantes, por vezes reflexivas, discussões existenciais que eles têm com o fantasma do pai.

Outro grande exemplo, desta vez pelo canal Showtime, é o da série "Weeds" (que passa aqui no GNT). Mais uma vez, o ponto de partida é a morte do patriarca. A mãe, para manter o seu nível de vida e dos seus filhos (dois gartotos, um de 16 e outro de 11), reciclando com incrível originalidade o tema do filme britânico "O Barato de Grace", decide comercializar maconha. Aqui, as já batidas críticas ao american way of life aparecem (como a música de abertura, que fala de pessoas morando em caixas iguais), mas cedem lugar a comportamentos totalmente diferentes. As cheerleaders que passaram da idade e se tornaram donas de casa recebem a sua dose de crítica bem humorada, mas são personagens ultra-humanizados e interessantes.


A série também compõe situações hilárias, em que a personagem principal (interpretada pela excelente Mary-Louise Parker, que finalmente tem um papel à altura do seu talento, e ganhou o Globo de Ouro de atriz desse ano) é ajudada pela sua fornecedora, que constitui uma espécie de oráculo. E ela nunca sai de situações de formas previsíveis, compondo, ao mesmo tempo, uma mulher vulnerável, porém forte e decidida. Ah, sim, pela primeira vez na televisão americana, dois temas espinhosos - sexo e drogas - são tratados de forma decente.

A nós, resta torcer pra que séries desse tipo continuem a serem feitas. E que sejam exibidas no Brasil. "Six Feet Under" até teve exibição na Warner, com o título de "A Sete Palmos", mas dublado ninguém conseguia... Vale lembrar que não estou dizendo que existam séries abertas ruins. Muito pelo contrário, existem ótimos exemplares, como Lost, Desperate Housewives e Two and a Half Men, que são, em certa medida, já uma resposta à tv paga. Se a qualidade continuar a subir, então que elas continuem dando respostas uma à outra!!!

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Sobre o Careca

Bem, eu já tinha cantado que se "Brokeback Mountain" perdesse, seria pra "Crash". O que não me deixa nem um pouco feliz. Porque os dois melhores filmes, "Munique" e "Boa Noite, e Boa Sorte" saíram de mão abanando. Ah, e "Crash" é ruim. Ruim não, péssimo! Como alguns críticos do Globo já disseram, o problema do filme chega a ser moral, pela forma absurda em que o roteirista tornado diretor Paul Haggis utiliza a linguagem cinematográfica. Deve ser o pior filme a ganhar um Oscar de melhor filme na história (se alguém se lembrar de outro, se manifeste, por favor)! É uma pena também que filmecos como esse e Capote não tenham cedido lugar ao último do Cronenberg (Marcas da Violência) e Woody Allen (Match Point)...

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Já que estamos em cinema comercial, já saiu o novo trailer do terceiro X-Men! É de encher os olhos! O link pra assistir, em quicktime, tá abaixo. Nunca escondi que adoro as histórias desses mutantes, que, para mim, são os super-heróis mais interessantes do mundo quadrinho pop:

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