Câmara Inversa

terça-feira, janeiro 31, 2006

Béla Bártok



Béla Bártok nasceu em Nagyszentmiklós, Hungria (hoje Sannicolaul Mare, Romênia), em 25 de março de 1881. Morreu em Nova Iorque em 26 de setembro de 1945.

Um dos nomes mais representativos da evolução musical na primeira metade do século XX, realizou em sua música uma perfeita fusão das tradições populares húngaras com as inovações técnicas de sua época e a racionalidade mais pura.

Seu trabalho de vanguarda recorreu aos sons arrítmicos, à atonalidade e ao uso de instrumentos de jazz.

Contribuiu para aumentar sua comunicação com o público a contagiante presença de melodias e ritmos de fundo folclórico, reelaborados em linguagem inconfundivelmente pessoal.

No começo, parece-se com Stravinsky. Seus ritmos seguem padrões irregulares, são ásperos e duros, sugerindo danças bárbaras, explosões de instintos atávicos, com melancolia sombria. O bailado O Mandarim Maravilhoso é um exemplo.

Um estilo "mais suave" aparece apenas no Concerto para orquestra e no Concerto para piano nº 3.

MP3 - Bartók

http://z08.zupload.com/download.php?file=getfile&filepath=21162

http://rapidshare.de/files/11241879/Bartok_-_Hungarian_Peasant_Dances_4_.mp3.html

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http://rapidshare.de/files/11242400/Bartok_-_Polka_Dance.mp3.html

domingo, janeiro 29, 2006

Os Embaixadores de Glasgow

Não vou vender o peixe de forma desonesta; afinal de contas, quem me conhece bem, sabe que é uma das minhas bandas favoritas. Dito isso, vou deixar o lado fã prevalecer: podem escrever, no final de 2006, o novo cd do Belle and Sebastian, "The Life Pursuit" (sai lá fora no dia 7 de fevereiro e aqui não muito depois pela Trama), vai estar em muitas listas de melhores do ano.

Por que? Bem, calma, vamos chegar lá. Vamos pelo começo. O nome vem de uma série de desenhos francesa sobre as aventuras de um garoto chamado Sebastian e sua cadela Belle. Mas não é uma dupla. O hepteto escocês (foto) surgiu em 1995, quando lançou "Tigermilk", um projeto de final do curso de Music Business da University of Glasgow. Foram apenas 1.000 cópias. Semanas depois, o preço de revenda do disco chegava a 250 pounds! Dj´s de rádios britânicas, em especial John Peel e Mark Radcliffe, responsáveis por lançar grupos como o The Smiths, começaram a tocar as músicas em seus programas. Ao mesmo tempo, a Jeepster, gravadora de pequeno porte começando suas operações, procurava uma banda carro-chefe. Não precisa dizer que foram eles. O resultado imediato foi "If You´re Feeling Sinister". Não conhece? Bem, procura na internet. Ah, não se espante se descobrir o cd em listas dos cinco álbums mais importantes da década de 90. Ele realmente (e normalmente) faz parte dessas listas.


Por que todo o hype? Pra começar, é diferente de tudo o que você já ouviu, ainda que conjugue um número absurdo de influências. Até trilha sonora ("Storytelling") pra cinema já fez; para o filme "Histórias Proibidas", de Todd Solondz. A própria formação clássica da banda, um octeto, já entrega o peculiar som deles: Stuart Murdoch (principal compositor e cantor, guitarra, piano), Stevie Jackson (guitarra, gaita e vocais), Stuart David (baixo e vocais), Isobel Campbell (violoncelo, teclado e vocais), Chris Geddes (teclados e piano), Richard Colburn (bateria), Sarah Martin (violino, teclado, baixo, flauta e vocais) e Mick Cooke (trompete e baixo). Atualmente, a banda não conta mais com a bela Isobel (foto), cuja saída é resultado da turbulenta relação que teve com Murdoch durante anos (digna de comparação com Johnny Cash e June, Sonny e Cher) e com Stuart David, que foi substituído pelo ótimo Bobby Kildea.



Os cd´s da banda são preenchidos, em maior parte, por baladas, com eventuais músicas mais rock. Mas não são baladas comuns. São músicas que em poucos minutos nos presenteiam com dois (maravilhosos) solos de violoncelo e de flauta, por exemplo. Muitos críticos defendem que um dos conceitos musicais que a banda levou adiante foi a criação de um "muro de som", quase como se cada instrumento (principalmente teclados, guitarra e eventualmente violino, violoncelo e trompete) flutuassem na melodia e dialogassem entre si, criando momentos de quase-solo.

Além disso, o approach comercial deles é bastante incomum. Entre os seus álbums, costumam lançar EPs, que são singles com em torno de 4 músicas, porém todas inéditas. E os nomes são os mais criativos possíveis, do tipo "Fold Your Hands, Child, You Walk Like a Peasant" ou "Push Barman to Open Old Wounds" ou "Dear Catastrophe Waitress" ou "The Boy with the Arab Strap". Até mesmo falar em approach comercial é difícil, já que por anos a banda teve a fama de reclusa, por não saber lidar com o sucesso.

Que, atualmente, é consolidado. Stuart Murdoch é considerado o maior poeta da Escócia. Se você ouvia Morissey e achava que era o mais literário que a música em inglês podia ser, bem, pense de novo. Quem mais começaria uma música com as linhas "Sunbeam shone, mousy girl on the end pew" e continuaria com "Wouldn´t you like to get away/Kerouac is beckoning with open arms/and open fields of eucalyptus wesward bound/Wouldn´t you like to get away/Give yourself up to the allure of Catcher in the Rye/The future is swayed with stars and stripes". Ou faria músicas tão sinceras como "Seeing other people" (We lay on the bed there/Kissing just for practice/Could we please be objective/Cause the other boys are queuing up behind us/A hand over my mouth/A hand over the window/Well, if I remain passive/And you just want to cuddle/Then we should be ok/And we won´t get into muddle/Seeing other people/At least/That´s what we say we´re doing).

Enfim, poderia continuar infinitamente sobre as músicas. Murdoch é mestre em criar personagens femininos (Lisa, Jane, Judy e, até mesmo, Anthony, um transexual!) e contar verdadeiros filmes ou livros em 3, 4 minutos de música. Imaginem uma banda em que cada cd tivesse uns 3, 4 "Eduardo e Mônica", porém com mais ironias, numa mistura sempre agridoce, por vezes melancólica, por vezes hilária.



Ah, e tem os covers. A banda sempre os faz ao vivo, sempre de forma inusitada. Dentre os artistas que já foram tocados ao vivo por eles, estão inclusos Beattles, Serge Gainsbourg, Michael Jackson (!), Beach Boys, Thin Lizzy, Françoise Hardy, Velvet Underground, Sly and the Family Stone, The Who (com a banda inteira, com execeção do baterista, nos vocais de "The Kids Are Allright"), Caetano Veloso (com Sarah cantando "Baby" acompanhada pela orquestra e pelo público brasileiro do Free Jazz Festival) e Jorge Ben Jor ("Minha Menina", com Stevie nos vocais e, de novo, o público brasileiro). Sim, eles vieram aqui e se preocuparam em cantar em português. E, sim, mesmo sem tocar em rádios, tem milhares de fãs brasileiros.

Pra não me alongar muito mais (esse certamente é o post mais longo), se você resistiu até aqui, vamos a "The Life Pursuit". O cd leva adiante a guinada dada em 2003, com "Dear Catastrophe Waitress", no sentido de instrumentais mais elaborados, com mais espaço pra solos, e vocais à la Beach Boys (apesar de, principalmente no novo álbum, se aproximarem de Frank Zappa, às vezes). As composições de Murdoch continuam geniais, principalmente em "Act of the Apostle I e II", "White Collar Boy", "Sukie in the Graveyard", a linda "Dress Up in You", "Funny Little Frog" (em que, genialmente, contradiz tudo o que disse antes na música no último verso e dá a tudo uma nova interpretação) e "Another Sunny Day". Há até uma incursão pelo blues, "Mornington Crescent", que acelera para um jazz lá pelo meio e depois desacelera com belíssimos solos de guitarra e piano. Deixando um pouco de lado o estilo pop sessentista que os consagrou, eles investem mais numa mistura anos 70 de rock, funk e baladas.

Pra mim, é o melhor cd deles depois de "The Boy with the Arab Strap", pelo qual ganharam o Brittish Awards de Banda Revelação, derrotando artistas feitos pra aparecer, ganhar dinheiro e sumir do mapa. O tempo provou que esses escoceses vieram pra ficar. Hoje, são referência pra muitas bandas e já foram eleitos a melhor banda da história da Escócia, deixando pra trás Teenage Fanclub, Primal Scream e Franz Ferdinand (que recentemente roubou o espaço deles de banda embaixadora da Escócia no mundo). Todos os cds e EPs deles podem ser facilmente achados no Brasil pela Trama a preços normalmente bem baratos. Abaixo, alguns exemplos de artes de capa:



sexta-feira, janeiro 27, 2006


Radiografia do Medo



Em tempos de um governo ultraconservador, que cerceia liberdades clamando, e aqui esse termo religioso cabe muito bem, uma (já velha) cruzada em prol daquele mesmo substantivo que ele inibe, aparece um filme que nos lembra oportunamente de um conturbado e semelhante período na história daquele país. Em pré-estréia pela cidade (o filme estréia na sexta da semana que vem), o novo filme de George Clooney (na direção e no roteiro), "Boa Noite, e Boa Sorte", retrata a oposição que o repórter da rede americana CBS Edward R. Murrow, com o apoio do seu produtor, Fred Friendly, conduziu através do seu programa ao senador MacCarthy.

Refrescando a memória, esse foi o senador que conduziu uma verdadeira caça aos comunistas na década de 50, sendo, inclusive, o próprio cinema americano um dos mais prejudicados, com a prisão e até expulsão do país de cineastas, técnicos e atores. Vencedor do Leão de Ouro em Veneza de melhor diretor (o prêmio de melhor filme foi para o outro favorito da temporada, Brokeback Mountain), o filme de Clooney é uma pequena obra-prima, um salto impressionante depois do mediano "Confissões de uma Mente Perigosa".

Fotografado em preto-e-branco impecavelmente por Robert Elswit, responsável tanto por baboseiras como "Gigli" quanto por pérolas de cinematografia como os filmes do diretor Paul Thomas Anderson ("Boogie Nights", "Magnolia"), "Boa Noite, e Boa Sorte" consegue direcionar um olhar profundo sobre os bastidores do programa e da rede CBS (ela não é a santa que permitiu a Murrow toda a liberdade de confrontar o senador; perdas foram tidas). Não há um ator interpretando o senador, apenas imagens reais dele da época. Ainda assim, o filme não busca um teor documental. Trata-se de um recurso mais de revolta no sentido "isto é um filme, mas esse homem realmente existiu e realmente expôs um país inteiro ao ridículo de acusar uns aos outros sem provas. Um homem só foi responsável, em escala nacional, pela quebra de laços de fraternidade, amizade e confiança. E tudo por causa de um medo irracional e inconseqüente."

Que Murrow fez questão não apenas de expôr, mas também de ridicularizar, realizando um trabalho de levantamento jornalístico exemplar, principalmente diante do que observamos hoje nos jornais... No seu programa, jamais acusava levianamente, apenas apontava contradições do senador e evidências contra a acusação de práticas comunistas. Desvelando o uso fascista da "luta" contra o comunismo como arma para eliminar quem se opusesse às políticas de MacCarthy, Murrow expôs o senador ao ridículo e contribuiu de forma decisiva pro afastamento dele da cena política.

Interpretando Murrow, David Strathairn fornece a melhor performance da sua carreira. E uma das melhores do cinema dos últimos tempos. Contido, expondo todo o terror e medo em apenas um olhar, ele certamente foi ajudado pela forma como Clooney decidiu contar a história, privilegiando não o que ele mostra, mas o espaço entre situações mostradas; o filme é mais construído sobre o não-dito do que sobre o que mostra. E daí toda a tensão e suspense são gerados. Ao espectador, resta preencher as lacunas e, eventualmente, procurar em fontes oficiais mais sobre o acontecido.

Não existem situações-clichê. Não há uma cena de ação de Murrow tendo que salvar a sua família (ela sequer aparece). O romance entre os personagens de Robert Downey Jr. e Patricia Clarkson também obedece à lógica de não escancarar e de deixar espaços. O resultado final é mais do que positivo, deixando-nos aflitos por um próximo filme de Clooney.

Em tempo

Os Arctic Monkeys, tema de um post antigo, tiveram o primeiro cd, "Whatever People Say, That´s What I´m Not", lançado na Inglaterra essa semana. E... advinhem só?! É o cd de estréia mais vendido no primeiro dia da história! E caminha pra bater o recorde da semana... Até David Bowie largou um pouco do pé do Arcade Fire (pelo menos até o próximo disco...) pra declarar o quanto os moleques são bons.

De acordo com o que andei lendo, dois festivais brasileiros grandes já estão em negociação para trazê-los esse ano.

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O novo cd dos Strokes, "First Impressions of Earth", finalmente faz jus à expectativa gerada pelo de estréia, o ótimo "Is This It?", e frustada pelo segundo, o fraco "Room on Fire". Adoro "Juicebox", que começa parecendo trilha sonora do Batman e que cresce até um rock confessional de primeira, e "Heart in a Cage".

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Fiquei sabendo ontem também que outra banda que mencionei aqui deve estar se reunindo depois de anos de separação e de declarações de que era realmente fim. Quem? Smashing Pumpkins...

terça-feira, janeiro 24, 2006

Tenha já um analista!

A classe média brasileira tem um novo compromisso para suas tardes. Chega de dentistas, médicos ou dermatologistas. Nada de massagens com nomes orientais e que mais causam hematomas que alívio. O quente hoje é ter mesmo uma analista.

O mundo burguês é repleto de manias estranhas, cafonas e ausentes de sentido. E a última nova deste nosso universo particular parece se superar em todos os termos. Ir ao analista – que agradece pelos fartos cheques – tornou-se uma espécie de mania cult entre a classe média pseudo-intelectual. Sentar-se no divã é o point das terças e quintas ou segundas e quartas. E não importa se você sabe diferenciar um psicanalista de um analista. Não importa se você não sabe quem foi Freud, Lacan ou Jung. Você tem é que ter um analista!

Já se foi o tempo em que procurar ajuda psicológica era coisa para pessoas com traumas, alto nível de stress, neuroses ou problemas de relacionamento. Agora você não precisa ter nada disso. Se você perdeu o ônibus de manhã, o biscoito caiu no chão com a manteiga virada pra baixo ou não conseguiu sair com a estagiária gostosa do trabalho, pode sentir-se habilitado a procurar um analista.

Com um analista você poderá ser o cara

Mas para você gozar de prestígio entre seus amigos não basta ter um analista. Você tem que divulgar a informação. Aí sim o impacto terá efeito. Aí sim você será visto com um “membro do clube”. E é fácil perceber a busca desta honra. Estes destemidos analisados estão a nossa volta. Eles dominarão o mundo! Você quer ser um desses felizardos? Então aí vão algumas dicas:

- Quando você for chamado para um choop numa quinta-feira de forte calor diga para quem lhe fez o convite: - Não posso. Hoje é dia do analista. Seu amigo não só o perdoará pela recusa, como passará a reverenciá-lo.

- Durante uma reunião com a alta cúpula da empresa saia uns 20 minutos mais cedo dizendo: - Desculpe gente, mas hoje tenho analista. Em breve você será promovido.

- Quando houver a visita de um amigo, ligue para sua secretária e peça para ela transferir o seu analista de dia. Mesmo que você não precise. O que importa é que a pessoa perto de você saiba que você faz análise.

- A mais importante dica: você deve constantemente falar de seu analista. Para todos. E nunca de forma direta. Falar alto é a melhor saída. Diga o como ele é bom, charmoso e inteligente. Reclame de seus problemas e sempre - eu disse sempre - certifique-se que alguém está lhe escutando. Para finalizar sempre sugira o seu analista para alguém. Isso tornará você o cara.

Nenhuma novidade

É claro que este hábito é novidade apenas para brasileiros. Em Nova Iorque já é uma coisa velha, que começou lá na década de 70, impulsionada por pérolas como filmes de Woody Allen. Se bem que o trabalho de Allen era exatamente uma crítica mordaz a este comportamento neurótico de homens e mulheres desenraizadamente modernos.



Atualmente não importa se você acha que tem problemas ou não. No fundo todos os temos. Mas o que importa é que você tenha um analista e todos o saibam. Discuta em bares, fale sobre ele/ela ao telefone, deixe marcado em sua agenda, com letras garrafais, o dia da sua consulta. Se possível tenha mais de um analista.

Falando sério

Se por um lado ter um analista para qualquer palhaçada cotidiana tornou-se status de uma falsa inteligência, para aqueles que realmente precisam de ajuda psicológica por inúmeros outros motivos – burgueses ou não – a comunidade médica parece estar tomando um rumo extremamente preocupante: remédios.

Neste caso parece não haver paciência para longas sessões de análise. Uma receita de antidepressivo ou calmante basta. E quem lucra são as indústrias farmacêuticas, que movimentam bilhões em todo o globo, sonhando para que um dia a moda burguesa não seja mais o analista e sim a milagrosa pílula. Aquele que acaba com todos os problemas, como num passe de mágica. E aí, não estará revelada apenas a fragilidade de nossas relações contemporâneas, nossos laços puídos de amizade ou relações amorosas baseadas nas leis liberais de mercado. Será revelado também um caminho irreversível em que a moda será o próprio vício. E há até quem diga que esta migração já está em marcha. Esperemos que não.

domingo, janeiro 22, 2006

O Coração é Traiçoeiro Acima de Todas as Coisas


O escritor JT Leroy (foto) tinha uma história impressionante, forte demais pras sessões de telefilmes típicas do Super Cine. Maltratado desde criança pela mãe, prostituído e colocado sob a custódia do estado aos 14 anos. Aos 16 anos, seu psiquiatra, impressionado com o que ouvia, pediu que ele escrevesse sobre as suas experiências.

Pelo menos era o que todos acreditavam e divulgavam até mais ou menos uma semana atrás, quando sua verdadeira identidade, protegida pela defesa de que tinha uma aparência andrógina mesmo (que era completada por peruca loira e óculos escuros), foi revelada em reportagem do "New York Times". Trata-se, na verdade, de Savannah Knoop (foto), uma estilista que ninguém conhece.


Mas não era ela quem escrevia os livros de Leroy. A reportagem, ainda que não fornecesse provas disso, defendia que poderia ser uma mulher, chamada Laura Albert, que tentara (em vão) o sucesso durantes anos com sua banda punk. Tudo indica que a polêmica ainda deve se alongar. Sexta-feira passada, mais por coincidência do que por oportunismo, chegou ao cinemas a adaptação do segundo livro de Leroy/Laura/sei-lá-quem, Maldito Coração (foto), de Asia Argento, atriz e filha do cineasta italiano de filmes de terror B, Dario Argento.


Os livros de Leroy são de difícil adaptação para as telas. Sua escrita é de uma fluência e poesia raras, o que torna a adaptação de Argento um êxito impressionante. Tratando de um tema espinhoso, ela consegue fugir a todos os clichês que o espectador poderia esperar, principalmente porque demonstra total controle sobre a linguagem cinematográfica, produzindo cenas surrealistas ao mesmo tempo estranhas e cativantes.

O título original do segundo livro ("The Heart is Deceitful Above All Things") ilustra exatamente o karma dos personagens de Leroy. Tanto dos que ele criou quanto daqueles de que se aproximou na vida real (o filme, por exemplo, conta com um elenco de famosos, incluindo Peter Fonda, Winona Ryder e Michael Pitt), contando a "história" de sua vida e afirmando ser portador do vírus HIV.

Dentre esse grupo de famosos, encontra-se, também, Gus Van Sant (diretor de "Elefante", "Last Days" e "Um Sonho Sem Limites", dentre outros), responsável pela arte da capa do primeiro livro de Leroy, Sarah (foto), já lançado comercialmente no Brasil.


Sarah é o nome da mãe do personagem principal, ao mesmo tempo principal influência e algoz dele. As histórias dos livros de Leroy são ambientadas no sul dos Estados Unidos, em atmosferas marcadas pela religiosidade fanática (quase um personagem dos seus livros) e pela promiscuidade da vida de uma parcela da população americana, que numa linguagem perjorativa no país, é apelidada de "white trash". Como se não bastasse tudo que o tema espinhoso desse embate pudesse render, Leroy (vou continuar chamando ele assim até que o responsável se apresente) vai além, ao trabalhar as fronteiras que definem a sexualidade nascente, no caso a do garoto que se prostitui como uma garota. Como afirmado anteriormente, de uma forma que foge inteiramente ao vulgar, numa magnífica prosa poética de teor agridoce que captura toda a loucura e fanatismo de um grupo social.

Se Sarah foi saudado por muitos (eu, inclusive, me incluo aí) como uma das mais importantes obras literárias dos últimos anos, o balão do personagem-escritor na vida real já entrou para história da literatura como um dos melhores golpes de marketing já feitos. Se o coração é traiçoeiro acima de todas as coisas pros personagens dos livros e, por extensão, para nós na vida real, nesse caso, foi muito mais para aqueles a quem Leroy se aproximou. E aí certamente não se incluem os leitores mais do que satisfeitos.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Macacos do Ártico e o Táxi da Morte para uma Bonitinha

Não, não é nome de uma banda dos anos 80, à lá "João Penca e Seus Miquinhos Adestrados" (lembram dessa?)! É mais significativo. Na verdade, é bem mais atual. Alguém disse, já não lembro mais quem foi, que os americanos inventam o rock pros ingleses roubarem e fazerem muito melhor.

Não tenho muito o que discordar. Basta olhar o histórico... Beattles, Queen, The Who, Pink Floyd, The Smiths... Tal situação se repete agora. Às vezes, dá a impressão de que os Strokes surgiram só para que quatro moleques ingleses, com idades entre 19 e 20 anos (!), ganhassem destaque com o público e depois com a mídia. São os Arctic Monkeys (foto abaixo). O hype em torno da banda já é tanto que os garotos demonstram um bocado de insatisfação.


Se a badalação faz sentido? Faz. Todo. Em muitos momentos, a forma como a música se desenvolve lembra o The Who (um pouco mais punk, contudo), com quebras de ritmo, solos de guitarra, linhas de baixo frenéticas e (muito) bem tocadas. O vocalista é muito carismático na forma como canta verdadeiras crônicas da vida adolescente. O primeiro cd deles, com o original título "Whatever People Say I Am, That´s What I'm Not", sai aqui no Brasil em março. É, talvez, o que de mais inteligente e honesto você vai encontrar no rock atual. Sem exagero. Pra quem se interessar, recomendo A Certain Romance ou When the Sun Goes Down.

Toda regra, contudo, tem exceções. Se os tempos de ouro do rock indie americano parecem longe, com a morte de bandas como Smashing Pumpkins, existem casos que valem uma olhada. Um deles é o Death Cab for a Cutie (foto abaixo), banda de 4 integrantes, que foi formada na segunda metade dos anos 90, mas, curiosamente, tem adquirido mais destaque somente agora.

Se o nome parece saído de uma banda de heavy metal, o som deles trai logo de cara essa primeira percepção. Batidas com tempos inusitados , guitarras dedilhadas (algo cada vez mais raro no Rock) e harmonias que parecem construir paisagens na mente de quem as ouve são características comuns a eles. Tomara que tenham mais sucesso. Sugestões pra quem se interessar: Movie Script Ending e A Lack of Color.

quarta-feira, janeiro 18, 2006



Não se trata de um ambiente extraído de um livro de magia. Nem de uma revolucionária técnica de pintura. Nem sequer de uma fase psicodélica de algum jogo de videogame.

É apenas... uma Câmara Inversa.

Mais do que caracterizar uma polarização, no caso deste blog, é o movimento que realmente importa. Não daqueles que simbolizam coesão estética ou ideológica (talvez, quanto menos disso, melhor), mas a própria ação de inverter. Mover os fatos e a arte 180º e olhar para esse novo objeto, por vezes destituído da sua elegância original, mas sempre com renovado poder de fascinação.

Vale lembrar que a inversão pode ser feita mais de uma vez. Cada vez que o objeto é invertido, novos sentidos são construídos. E a Câmara é grande o suficiente para abraçar quantos "invertores" quiserem!

Que comece a Inversão!